Rede de supermercados com 4 décadas entra em recuperação judicial por dívidas de R$ 62,2 milhões

A rede Brasil Supermercados, conhecida como Supermercado Degrau, protocolou pedido de recuperação judicial em 22 de setembro de 2025 na 2ª Vara Cível da Comarca de Timóteo (MG) para tentar reorganizar seus passivos. A causa alegada é de R$ 62.237.055,09.

Com 43 anos de operação no Vale do Aço, a rede afirma que seu resultado operacional, antes de despesas financeiras, ainda é positivo, mas que o endividamento excessivo ameaça sua continuidade. As dívidas incluem vencimentos iminentes estimados em R$ 71,2 milhões, entre créditos sujeitos e não sujeitos à recuperação judicial.

O pedido foi acompanhado da solicitação de tutela de urgência para manter as atividades enquanto negocia os credores. Como parte do processo, o juízo determinou a realização de perícia prévia e já designou uma administradora judicial, a Silveira Unes Assis & Carvalho, para acompanhar o caso.

O que levou à crise

Alguns fatores apontados pela empresa no pedido e nas manifestações judiciais:

• Aumento nos custos financeiros: a rede fez expansão em 2019 sob cenário de juros baixos. Com a elevação da taxa Selic para cerca de 15% ao ano, os encargos das dívidas pós-fixadas dispararam e passaram a pressionar severamente o fluxo de caixa.
• Inflação de insumos, logística e despesas operacionais: a pandemia e o aumento de custos gerais corroeram margens.
• Cessão fiduciária de recebíveis de cartões: parte do caixa é automaticamente retida como garantia, o que “asfixia” o capital de giro da operação.
• Concorrência intensa de grandes redes e atacarejos: redes como Assaí, Mart Minas, Coelho Diniz e Supermercados BH pressionam preços e volume, reduzindo margem de redes regionais.

Repercussão para clientes, funcionários e fornecedores

A recuperação judicial, se concedida, permitirá que a rede continue funcionando enquanto elabora um plano de reestruturação. Isso evita fechamentos abruptos, suspende execuções e oferece proteção temporária a contratos essenciais.

Para clientes, a expectativa é que os supermercados continuem abertos com atendimento normal. Para fornecedores, o momento implica negociação rigorosa e readequação de prazos e condições de pagamento, conforme o plano proposto.

Em termos trabalhistas, busca-se preservar empregos na medida do possível. Porém, o risco é que parte da cadeia sofra ajustes: redução de pessoal, fechamento de lojas ou venda de ativos pode ser previsto no plano de recuperação.

Ambiente do varejo regional

O documento do pedido cita o cenário competitivo do varejo local, com redes fortes entrando com força no mercado regional, oferecendo volumes maiores e preços agressivos. A operação local enfrenta dificuldade de disputa por escala e poder de compra.

Especialistas jurídicos e em varejo observam que casos similares no setor costumam envolver venda de imóveis, fusões ou fechamento de lojas como parte dos planos de recuperação. Alguns acreditam que, com gestão ajustada e corte de custos, há possibilidade de estabilização.