A União Europeia (UE) está em vias de implementar um plano de alto impacto comercial que deve redefinir o mercado global de um material estratégico: a sucata de alumínio. Impulsionada por grupos setoriais, como a European Aluminium, a Comissão Europeia iniciou o trabalho preparatório para uma medida que visa conter a fuga deste resíduo valioso para fora do bloco.
A decisão reflete uma preocupação crescente com a resiliência da cadeia de suprimentos e o cumprimento das ambiciosas metas climáticas do continente. O plano é visto como vital para proteger a indústria doméstica e acelerar a transição verde.
O Comissário Europeu para o Comércio, Maroš Šefčovič, confirmou o lançamento da medida, que busca um ponto de equilíbrio para os interesses de toda a cadeia de valor. Os dados que justificam a ação são, no entanto, a principal força motriz.
Em 2024, as exportações de sucata de alumínio da UE atingiram um recorde de 1,26 milhão de toneladas. Esse volume representa um salto de aproximadamente 50% em comparação com o nível registrado apenas cinco anos antes. A maior parte desse fluxo está sendo direcionada para o continente asiático.
O principal objetivo da restrição é garantir o suprimento doméstico de matéria-prima secundária. A indústria europeia de alumínio reciclado, crucial para a descarbonização, enfrenta um déficit produtivo. Estima-se que faltem cerca de 2 milhões de toneladas de sucata anualmente para que as usinas de reciclagem do bloco operem em plena capacidade.
O alumínio reciclado é um pilar da economia circular e dos esforços green da UE. Reciclar este metal consome cerca de 95% menos energia do que produzir alumínio primário. A fuga de sucata, portanto, é vista como uma ameaça direta aos compromissos europeus de redução das emissões de gases de efeito estufa.
A crise de suprimento foi agravada por políticas comerciais internacionais assimétricas. As tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre o alumínio manufaturado da UE tornaram a sucata europeia, que é isenta de taxas, muito mais atrativa para compradores globais.
Para reverter essa distorção, produtores da UE sugerem a imposição de uma tarifa de exportação que pode variar entre 25% e 30%. Analistas de mercado indicam que um imposto neste patamar poderia onerar os custos para compradores internacionais em €50 a €150 por tonelada.
Apesar do apoio da European Aluminium, a proposta enfrenta forte resistência dos fornecedores de sucata (negociantes). Eles argumentam que a alta nas exportações é um reflexo da demanda doméstica fraca e da capacidade insuficiente do bloco para processar sucata de grau misto.
Além disso, os compradores estrangeiros frequentemente pagam preços mais altos, ameaçando a lucratividade dos negociantes locais e a manutenção dos empregos no setor. A Comissão Europeia prometeu que as novas regras serão “equilibradas”, mas o plano é claro: adotar a medida na primavera de 2026.
O período até lá será usado para consultas públicas e coleta de evidências, enquanto o bloco tenta proteger sua indústria estratégica e acelerar sua transição verde, confrontando as distorções do mercado global.
