A busca por menores custos operacionais e incentivos fiscais tem levado um número crescente de empresas brasileiras a transferirem parte de sua produção para o Paraguai. O movimento, que começou há alguns anos com o setor têxtil, ganhou força em 2025 e já envolve centenas de indústrias, incluindo marcas conhecidas como Lupo, Marisol, Malwee, Tavex e Pacífico Sul.
Essas companhias têm aproveitado o Regime de Maquila, modelo tributário criado pelo governo paraguaio que permite às empresas estrangeiras importar insumos sem tarifas e pagar apenas 1% de imposto sobre o valor agregado local. Essa estrutura reduz drasticamente os custos de produção em comparação ao Brasil, onde a carga tributária e os encargos trabalhistas continuam entre os mais altos da América Latina.
A Lupo, tradicional fabricante de roupas e artigos esportivos com sede em Araraquara (SP), é um dos exemplos mais emblemáticos dessa migração. Fundada em 1921, a empresa consolidou-se como uma das líderes no mercado nacional de meias e roupas íntimas, mas decidiu ampliar suas operações no país vizinho para ganhar competitividade internacional. A unidade paraguaia já responde por uma parcela crescente da produção exportada para outros mercados sul-americanos.
Segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio do Paraguai, existem atualmente mais de 290 indústrias estrangeiras operando sob o regime de Maquila, sendo que cerca de 80% têm origem no Brasil. A soma dessas empresas representa mais de 25 mil empregos diretos no território paraguaio, além de movimentar exportações superiores a US$ 1,2 bilhão por ano.
Especialistas apontam que o fenômeno não representa necessariamente uma “fuga” definitiva da indústria brasileira, mas uma estratégia de diversificação produtiva. Enquanto o Brasil enfrenta custos crescentes com energia, logística e tributos, o Paraguai oferece estabilidade cambial, energia hidrelétrica abundante e custos trabalhistas mais baixos — combinação que tem atraído investimentos de setores têxtil, metalúrgico e plástico.
A tendência indica uma reconfiguração da cadeia produtiva regional, com o Paraguai se consolidando como um polo industrial de baixo custo, e o Brasil mantendo a liderança em pesquisa, design e distribuição.


